O Google também foi afetado no YouTube, mas não revela preocupação quando o assunto é a busca orgânica, afinal a política da companhia é de só remover conteúdos dos resultados em situações muito excepcionais.

Diferentemente do Twitter, do Facebook ou da sua própria plataforma de vídeos, que apagam links para sites duvidosos, deletam vídeos inapropriados ou excluem perfis que insistem em propagar mentiras e discurso de ódio, o Gigante das Buscas prefere adotar uma postura de completa neutralidade. Em alguns casos, inclusive, o buscador ajudou a levar audiência para sites pouco conhecidos e torná-los famosos muito rapidamente.
Essa postura é elogiada por uns, mas criticada por tantos outros, especialmente porque permite a disseminação em massa de conteúdos potencialmente nocivos. Para explicar como tais decisões se desenrolam nos escritórios do Google, o GeekNews conversou com exclusividade com Danny Sullivan, especialista do Google que atua para aprimorar as pesquisas conforme a cabeça do usuário.
Além de detalhar sobre o funcionamento do mecanismo de busca, como os sinais usados para ranquear páginas e as boas práticas para otimizar conteúdo, o profissional tocou nesse ponto importante acerca de uma prática bem comum de outras Big Techs.
Buscador x redes sociais
Segundo Sullivan, o posicionamento específico decorre das diferenças entre as plataformas: tudo está relacionado à autoria de conteúdo. Enquanto nas redes sociais, os materiais são feitos e divulgados dentro da plataforma, o que as faz responsável solidária por eventuais problemas, no buscador tudo é originário de fora.
“Mesmo que nós removamos o conteúdo do Google, ele continuará existindo na internet. O procedimento ideal, portanto, seria contatar diretamente o website e solicitar a remoção”, explica.
Ou seja, o mecanismo de busca do Google apenas indexa os sites, como em um imenso índice de livro, mas não os hospeda, portanto não pode ser punido pelo que as pessoas produzem. Embora pareça que a companhia apenas queira “tirar o corpo fora”, a argumentação é verdadeira e faz muito sentido sobre a óptica técnica.

Segundo Sullivan, a companhia só remove conteúdos em casos bastante específicos, previstos na política de privacidade. São eles:
- Imagens explícitas ou íntimas não consensuais;
- Conteúdo pornográfico falso e não consentido;
- Sites com dados pessoais e práticas de remoção abusivas, como chantagem ou extorsão;
- Informações financeiras, médicas e de identificação nacional específicas;
- Vazamento de dados de contatos com intenções maliciosas;
- Fotos de menores de idade.
Se essa abordagem amigável não der resultados, o jeito é recorrer à Justiça para forçar a retirada do conteúdo. O Google costuma tirar do ar links para sites com denúncias de violação de direitos autorais e imagens de abuso sexual infantil, além de cumprir as determinações jurídicas em outras situações.
Por que não remover conteúdos?
Discursos de ódio, racismo e ações de grupos extremistas ganham corpo na web, em especial nas plataformas sociais, com sites criados para esse único propósito. Embora haja o combate intensivo das mídias contra isso, o Google não costuma interferir na indexação nestes casos.
A justificativa, conforme Sullivan, é que o Google é uma ferramenta mundial voltada para todas as pessoas. “O que é negativo para você pode não ser para o outro e isso precisa ser respeitado”, explica. Portanto, fica difícil estabelecer uma linha única de pensamento para definir o que é adequado e o que não é em muitas situações.
“Se você fizer uma busca por pizza, terá resultados bem diferentes dependendo do local onde está, porque os resultados são regionalizados. Isso vale não só quanto a estabelecimentos para comê-la como também para os sabores mais populares”, exemplifica o especialista.

Um exemplo disso é o interminável conflito entre Israelenses e Palestinos. A guerra é a mesma, mas os pontos de vista são diferentes conforme a origem do espectador.
Os brasileiros tendem a ser mais simpáticos à causa de Israel, porque nutrem mais semelhanças e a cobertura midiática é feita principalmente por países do ocidente, aliados dos israelenses. Já os árabes, especialmente os que vivem na região do Oriente Médio, costumam apoiar a luta palestina porque estão submetidos a um contexto social, econômico e religioso de maior afinidade a este povo.
A visão do Google parece estar mais centrada em ser uma ferramenta do que em adentrar em questões políticas, sociais ou econômicas que gerem divergência entre grupos políticos e sociais. Se isso é certo ou errado, fica a critério do leitor decidir, mas a verdade é que essa visão tem evitado alguns problemas para a companhia ao longo da história.